sábado, 24 de maio de 2014

A Culpa é das Estrelas de John Green

Apesar do milagre da medicina que fez diminuir o tumor que a atacara há alguns anos, Hazel nunca tinha conhecido outra situação que não a de doente terminal, sendo o capítulo final da sua vida parte integrante do seu diagnóstico. Mas com a chegada repentina ao Grupo de Apoio dos Miúdos com Cancro de uma atraente reviravolta de seu nome Augustus Waters, a história de Hazel vê-se agora prestes a ser completamente rescrita.

PERSPICAZ, ARROJADO, IRREVERENTE E CRU, A Culpa é das Estrelas é a obra mais ambiciosa e comovente que o premiado autor John Green nos apresentou até hoje, explorando de maneira brilhante a aventura divertida, empolgante e trágica que é estar-se vivo e apaixonado.
 
A MINHA OPINIÃO:

A Culpa das Estrelas é um livro surpreendentemente leve para uma obra que aborda o amor entre dois adolescentes com cancro. Porém, esta leveza não pode e nem deve ser confundida com desleixo ou desrespeito. Pelo contrário, é sinónimo de vida! John Green tem aqui uma história de vida e não de morte. E é belo assistir à paixão de Hazel e Augustus! Hazel é adorável e os seus sonhos são tão legítimos quanto credíveis. Ela ainda tem aquele toque de irreverência característico da adolescência o que lhe confere realismo. Quanto a Augustus, ele é uma caixinha cheia de mistérios. Tem um je ne se quois de Shakespeare pois, os seus pensamentos e diálogos além de perspicazes são quase teatrais. Mas, após o conhecermos melhor percebemos que é mesmo da sua natureza muito suis generis e que faz parte do seu encanto. Além das personagens empáticas, a escrita de Green consegue ser cómica não dramatizando em demasia as situações. Há um grande sentido de equilíbrio e harmonia ao longo do livro sendo que, ele tão depressa nos leva ao riso quanto às lágrimas. É uma leitura empolgante embora seja muito juvenil, claramente direccionado para a faixa etária em questão. A escrita de Green reflecte essa imaturidade, não sendo ainda plena como convém à adolescência. Isso pode ser uma mais-valia ou uma desventura consoante o leitor.  Quem espera uma obra-prima com uma escrita enorme e cheia de requinte ficará desapontado. Todavia, quem não se importa com a simplicidade cheia de significado ficará feliz.
É um livro que aquece o coração e cujo final é algo inesperado mas que, fecha muito bem uma bonita história de vida. Não é deslumbrante não obstante, não deixa de ser encantador!

5/7- MUITO BOM

TRAILER DO FILME:

 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald

A existência de F. Scott Fitzgerald coincide literáriamente com os dois decénios que separam as duas guerras, repartindo-se entre a América onde nasceu, numa pacata cidade do Middle West, no Minnesota, e a França, onde viveu durante vários anos com a família. O seu nome evoca-nos uma geração que associamos à lendária idade do jazz, vertiginosa e fútil. Fitzgerald pertenceu a essa geração, foi um dos seus arautos. A sua vida tão precocemente visitada pela fama, e tão cedo destruída, é a carne e o sangue de que é feita a sua obra. O Grande Gatsby é o seu maior romance, talvez porque nele se fundem com rara felicidade essa matéria-prima, a sua própria experiência de vida, e uma linguagem de grande qualidade poética.

A MINHA OPINIÃO:

O Grande Gatsby  é um livro "dito" clássico que marcou a história da literatura de tal modo que, já foi, várias vezes, adaptado ao cinema e motivo de discussões e palestras por todo mundo. Com pouco de 100 páginas, é uma obra que me intrigava bastante.
É realmente um monumento à sociedade americana dos loucos anos 20! Fitzgerald  traça um retrato perfeito de uma época marcada pela ostentação, pela especulação financeira, corrupção, consumismo e pela inovação industrial e tecnológica.  As descrições do autor apontam para uma sociedade fútil e supérflua que vive para a adulação e o narcisismo. É apologista da liberdade porém, esquece-se que com esta também há deveres. Tudo é levado ao extremo como se a liberdade se pudesse esgotar. O mais fascinante deste quadro pintado por F. Scott Fitzgerald é que, apesar destes excessos todos os personagens procuram a felicidade, obtendo uma imagem muito deturpada dela. Jay Gatsby espelha exactamente, a fabricação de um sonho, a busca de uma ilusão e de uma Daisy que já não existe. Através do olhar de Nick, o narrador, Gatsby é a personificação do oco e do vazio. Estar rodeado de riqueza todavia, não poder ter aquilo que se realmente quer. Ele é uma personagem completa e dissecada pelo autor até à exaustão pelo que, sentimos o seu percurso com emoção e compaixão. Já Daisy, é intragável. É provável que este fosse o objectivo do escritor mas, torna insuperável cada momento que ela surge. Ela é uma personagem de carácter hediondo, um produto da sociedade oca que a rodeia. 
A escrita de Fitzgerald é belíssima e o fim do livro é poderoso, cativando o leitor. Todavia, o início é moroso e as vibrantes descrições não compensam o défice de acção. Entende-se a importância do livro que retrata uma época com profundidade e detalhe mas, esperava algo mais.

4/7- BOM

TRAILER DO FILME:

 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O Oceano no Fim do Caminho de Neil Gaiman


Este livro é tanto um conto fantástico como um livro sobre a memória e o modo como ela nos afecta ao longo do tempo. A história é narrada por um adulto que, por ocasião de um funeral,  regressa ao local onde vivera na infância, numa zona rural de Inglaterra, e revive o tempo em que era um rapazinho de sete anos. As imagens que guardara dentro de si transfiguram-se na recordação de algo que teria acontecido naquele cenário, misturando imagens felizes com os seus medos mais profundos, quando um mineiro sul-africano rouba o Mini do pai do narrador e se suicida no banco de trás. Esta belíssima e inquietante fábula revela a singular capacidade de Neil Gaiman para recriar uma mitologia moderna. 

 A MINHA OPINIÃO:

Há livros que apesar de terem poucas páginas nos trazem uma imensidão de sentimentos e uma riqueza indescritível! Nesta categoria insere-se O Oceano no Fim do Caminho. Sempre me surpreendeu o modo como Neil Gaiman enlaça o ficcional com o real ao ponto de não haver distinção entre ambos. Aquele é o seu mundo, o nosso mundo e, por mais bizarro que soe um lago ser de facto, um oceano, nós acreditamos. Nunca sabemos o nome do protagonista mas isso, não impede a nossa ligação com ele e reconhecer a sua admiração por Lettie, a amiga que tem 11 anos há vários anos. 
É uma leitura fabulosa no verdadeiro sentido da palavra! A Terra poderia parar de girar e eu nunca o sentiria porque estava imersa nas suas páginas. Traz alegria, acaba com solidão e faz-nos temer pelos personagens como se fossem de carne e osso. E apesar de tudo ser estranho, tudo é belo! Remete-nos para infância onde o impossível era possível de alcançar. Gaiman é mestre a criar histórias raras onde se abrem portas no coração para outro mundo porém, nas suas fundações estão aquilo que nos torna humanos: o medo, o horror, a coragem, a amizade, o sacrifício, o amor e o sonhar além do que temos.
Com somente 200 páginas, O Oceano no Fim do Caminho é uma viagem memorável que me põe na rota de outros livros do autor.
Ele deixa-nos aquela sensação familiar de nostalgia pois, quando o acabamos queremos mais mesmo sabendo que, ele é perfeito assim mesmo! Adoraria reencontrar Lettie ou o pequeno rapazinho de sete anos feito homem todavia, conhecê-los já me trouxe muita felicidade...

6/7- EXCELENTE